Publicado no Jornal A Tribuna - Espírito
Santo
No ambiente refrigerado, minha voz
saía calma. Ia dizendo “uma paz, e uma felicidade...”. E a regressão de memória
da jovem Marise prosseguia sem grandes emoções.
Ela, tão magrinha, os olhos
cerrados, sobre o rosto muito pálido, parecia quase imóvel. Minha voz saía
suave e pausada. E os ponteiros que mediam o nível do som, pareciam nada estar
gravando, pois não se mexiam.
Ela, num abandono integral de si, se
dava à toda a sua dor. Dor sem revolta, sem emoção, quase imperceptível. Lágrimas
desciam como se entornassem tranqüilas de dentro de si. Fui devagar percorrendo
mentalmente, em processo retroativo as idades vividas. Localizei-a em várias
fases de sua vida.
“Meu pai é um algoz” - tinha me dito
ela num desabafo. E aparentemente era a razão de todo o dilacerar de seu mundo
atual. Mas na regressão, o seu amor puro, magnífico, estava ali perdoando tudo.
“Sofro pela minha mãe” - confessava naquele momento, revivenciando os seus 10
anos de idade. Na verdade, toda a sua expressão fisionômica acompanhava a
expressão fisionômica da menina que fora. Percorremos no tempo, sua vida, até o
ventre materno. Fomos à época antes de sua existência.
“Estou agora conversando com o ser
essencial - a fagulha divina que habita este ser. Onde você está em mil
novecentos e...” Fui percorrendo séculos. Como ela não acreditava em pré ou pós
existência, nada podia dizer. Mas transmitia muita coisa naquele rosto lívido.
Podia se ver a angústia, dor, ansiedade. Eu esperava que ela explodisse um som,
qualquer som. Que evidenciasse a existência fundamental do seu ser, fora do
tempo e do espaço, em qualquer parte do Universo, em qualquer galáxia. Mas tudo
que aconteceu foi como se uma pedra tivesse sido atirada num lago dormente. Mil
círculos e vibrações rodopiando, emitindo ondas que se perdiam na não codificação.
Seu rosto se agitava em emoções não traduzidas! E apenas isto aconteceu: o ar
refrigerado parou. E o ambiente mergulhou num silêncio profundo. Ela se revirou
e deu conta de si. “Calor...” falou por fim.
Tratei de harmonizá-la por um relax
profundo motivador, In-Vita. Já havia localizado seus problemas básicos em áreas
emocionais mais recentes: suas experiências sexuais. Portanto, o objetivo da
regressão de memória, de entender os problemas, tinha sido alcançado. E tirei-a
com presteza do relax. Iríamos conversar então.
“Sente-se bem?” - perguntei a fim de
tranqüilizá-la.
“Calor” - disse-me novamente.
Desta vez, quem iria precisar de
ajuste, era eu! Francamente, sem ar-refrigerado, uma pessoa vinda das montanhas
geladas como eu, sente-se sufocar! Tentei substituir rapidamente a imagem, objeto
de frustração. Passei em minha retina o dia de sol fantástico esquentando as
praias que tanto adoro. E foi aí que senti mais calor! O telefone tocou. Minha
amiga Magali, pedia-me para conferir o disco voador que estava passando. Como
até hoje só vi luzinhas, tipo avião, não me entusiasmei muito.
Mas ao levar minha cliente até a
porta, sentindo a aragem fresca da noite, fui até lá fora. A brisa estava boa.
E eu sufocada de calor.
E à nossa cabeça, com a rapidez de
um disco... Passava o próprio!
Vimos por baixo as luzes piscarem.
Vimos por baixo as luzes piscarem. Vimos que cortava o céu de fora a fora.
Fiquei esperando a emoção acontecer... Mas nada. A luz passou e eu tinha que
voltar à minha frustração - passar a noite com calor. Ufa!
E quando voltei, o ar... Olhei para
os botões que eu experimentara e pareciam desativados. Todos como mortos. “Vou
tentar de novo” disse cheia de decisão. Enquanto isso, minha filha silenciosa,
olhando pela janela, enfim comentava:
“O disco foi embora”.
Mas ao tentar a ligação... Esta se
estabeleceu imediatamente. Todos os botões ativos. E o ar se fez gostoso,
refrigerando toda a sala.
E lembrei-me de Bianca e Hermínio
quando os contatei em Brasília, após terem ido ao programa da TV Tupi. “Eles
desligavam tudo”, afirmava. Teriam eles interferido no tipo de regressão que
fazíamos, sugando a energia emocional de Marise, e a minha energia mental também?
E com que espécie de energia se movem? Com as que suga? - “Ufa”, disse então
para desabafar - “são os UFOS!”. // Texto: H. Murray, em 1980.
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