quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ufa! São os UFOS!


Publicado no Jornal A Tribuna - Espírito Santo


No ambiente refrigerado, minha voz saía calma. Ia dizendo “uma paz, e uma felicidade...”. E a regressão de memória da jovem Marise prosseguia sem grandes emoções.
Ela, tão magrinha, os olhos cerrados, sobre o rosto muito pálido, parecia quase imóvel. Minha voz saía suave e pausada. E os ponteiros que mediam o nível do som, pareciam nada estar gravando, pois não se mexiam.
Ela, num abandono integral de si, se dava à toda a sua dor. Dor sem revolta, sem emoção, quase imperceptível. Lágrimas desciam como se entornassem tranqüilas de dentro de si. Fui devagar percorrendo mentalmente, em processo retroativo as idades vividas. Localizei-a em várias fases de sua vida.
“Meu pai é um algoz” - tinha me dito ela num desabafo. E aparentemente era a razão de todo o dilacerar de seu mundo atual. Mas na regressão, o seu amor puro, magnífico, estava ali perdoando tudo. “Sofro pela minha mãe” - confessava naquele momento, revivenciando os seus 10 anos de idade. Na verdade, toda a sua expressão fisionômica acompanhava a expressão fisionômica da menina que fora. Percorremos no tempo, sua vida, até o ventre materno. Fomos à época antes de sua existência.
“Estou agora conversando com o ser essencial - a fagulha divina que habita este ser. Onde você está em mil novecentos e...” Fui percorrendo séculos. Como ela não acreditava em pré ou pós existência, nada podia dizer. Mas transmitia muita coisa naquele rosto lívido. Podia se ver a angústia, dor, ansiedade. Eu esperava que ela explodisse um som, qualquer som. Que evidenciasse a existência fundamental do seu ser, fora do tempo e do espaço, em qualquer parte do Universo, em qualquer galáxia. Mas tudo que aconteceu foi como se uma pedra tivesse sido atirada num lago dormente. Mil círculos e vibrações rodopiando, emitindo ondas que se perdiam na não codificação. Seu rosto se agitava em emoções não traduzidas! E apenas isto aconteceu: o ar refrigerado parou. E o ambiente mergulhou num silêncio profundo. Ela se revirou e deu conta de si. “Calor...” falou por fim.
Tratei de harmonizá-la por um relax profundo motivador, In-Vita. Já havia localizado seus problemas básicos em áreas emocionais mais recentes: suas experiências sexuais. Portanto, o objetivo da regressão de memória, de entender os problemas, tinha sido alcançado. E tirei-a com presteza do relax. Iríamos conversar então.
“Sente-se bem?” - perguntei a fim de tranqüilizá-la.
“Calor” - disse-me novamente.
Desta vez, quem iria precisar de ajuste, era eu! Francamente, sem ar-refrigerado, uma pessoa vinda das montanhas geladas como eu, sente-se sufocar! Tentei substituir rapidamente a imagem, objeto de frustração. Passei em minha retina o dia de sol fantástico esquentando as praias que tanto adoro. E foi aí que senti mais calor! O telefone tocou. Minha amiga Magali, pedia-me para conferir o disco voador que estava passando. Como até hoje só vi luzinhas, tipo avião, não me entusiasmei muito.
Mas ao levar minha cliente até a porta, sentindo a aragem fresca da noite, fui até lá fora. A brisa estava boa. E eu sufocada de calor.
E à nossa cabeça, com a rapidez de um disco... Passava o próprio!
Vimos por baixo as luzes piscarem. Vimos por baixo as luzes piscarem. Vimos que cortava o céu de fora a fora. Fiquei esperando a emoção acontecer... Mas nada. A luz passou e eu tinha que voltar à minha frustração - passar a noite com calor. Ufa!
E quando voltei, o ar... Olhei para os botões que eu experimentara e pareciam desativados. Todos como mortos. “Vou tentar de novo” disse cheia de decisão. Enquanto isso, minha filha silenciosa, olhando pela janela, enfim comentava:
“O disco foi embora”.
Mas ao tentar a ligação... Esta se estabeleceu imediatamente. Todos os botões ativos. E o ar se fez gostoso, refrigerando toda a sala.
E lembrei-me de Bianca e Hermínio quando os contatei em Brasília, após terem ido ao programa da TV Tupi. “Eles desligavam tudo”, afirmava. Teriam eles interferido no tipo de regressão que fazíamos, sugando a energia emocional de Marise, e a minha energia mental também? E com que espécie de energia se movem? Com as que suga? - “Ufa”, disse então para desabafar - “são os UFOS!”. // Texto: H. Murray, em 1980.


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