segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Doce Rio Bonito

Por ANA MARIA WOLFF

“E daí?” - ele se perguntou perplexo diante de suas próprias conclusões. Sua cabeça pendeu um pouco para o lado num jeito peculiar. E daí a dizer “não!” foi um só impulso. “Chega!” - ele exclamou de novo. Aquele não era o horizonte que buscava. Suspendeu os olhos para o infinito e viu o mar. O velho sonho, aquele apelo veemente de futuro, aquela provocação que o mar lhe suscitava era nada.
“Olhe isto!” - exclamou para si mesmo. Repudiou a poluição da cidade grande, o barulho, a poeira e o que mais incomodava: a indiferença das pessoas.
“Quem é amigo de quem?” perguntou-se. Naquele momento de crucial decisão, só uma resposta lhe veio: “quero voltar às minhas raízes”.
E na sua mente pode ver de novo aquele azul resplandecente do céu de Rio Bonito. E o contorno daquelas montanhas azuladas, repletas de matas, como uma moldura perfeita do cenário de sua terra.
“Ah! Quero voltar!” decidiu. “Quero mais ainda”. Contou aos seus familiares: “Quero ver os olhos sinceros das pessoas dizendo ‘bom dia’. Ver suas esperanças num sorriso amigo e compartilhar do seu dia a dia. Poder dizer uma palavra amiga numa hora aflita ou seja, comungar com pessoas reais o seu pão de cada dia!.
Foi então que lhe veio aquela idéia: “Sim. Vou estabelecer uma padaria! Mas quero fornecer os produtos puros, de boa qualidade! Quero tudo de verdade. Como nos velhos tempos! Se a receita do pão ou do bolo levam manteiga, não haverá substitutos. Quero ver o sorriso da criança lambendo os dedos e com a cara suja de mel. Faz sentido dizer: ‘Bom dia Rio Bonito’!” E cheio de fé religiosa ele organiza o melhor ponto de encontro da cidade. Onde a vida é vida, onde o amor é a paz, onde dizer bom dia vale o pãozinho fumegante. Sim, o ideal aqui é ser tudo de verdade para gente de verdade que sempre foi de Rio Bonito.
“Bom dia amigos!!”.
Sorri cheia de alegria pelo ideal, mas meio triste em pensar: “E quem não pode dizer este bom dia amável? Sabe, tem aqueles que não podem comer nem manteiga, nem farinha branca, nem açúcar, mas ainda tem vida para viver. Haverá um pãozinho especial para este tipo de pessoa? Conta, que eu vou lá correndo”.

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