Projeto Expansão AFI 2013
É um bairro de Niterói populoso, e numa loja de
esquina, muito bem situada, encontramos um lojista desanimado quanto ao futuro
dos negócios.
Fala Henrique Tiago sobre a situação de seu ramo de
comércio automotivo e autopeças, numa segunda-feira às nove horas da manhã: Enrico
Domenico, ele é um italiano que se auto intitula um dos últimos filósofos. Ele
disse que na China existe essa necessidade de se produzir lá - eles invadiriam
os outros países. Então para controlar, para deixar aquele povo lá, da forma
que o mundo ocidental conseguiu - é essa. Deixar eles produzirem. Só que eles
não conseguem “conceber”. A concepção, a criação, é do ocidente. Tanto o
modelo, as características técnicas, eles não tem muita capacidade, eles não
produzem... Eles não têm visão. Então o que acontece? O fato de isso ser uma
verdade - uma necessidade: eles se manterem por lá - só que eles resolveram
dominar o mundo com isso. Desde um palito de fósforo, hoje em dia, às peças de
um avião são produzidos por eles. E a indústria nacional está sofrendo!
Reinaldo Wolff: É um mar de guerra!
Henrique
Tiago: O que o Brasil está produzindo? Ele vive de recursos naturais, vive de
soja, batata, arroz, feijão, vive disso. Porque produção industrial - o que o
país produz? Não produz mais nada! Tudo que você comprar é da China. Até os
defensivos agrícolas, eles não têm como produzir lá - então eles compram daqui
- Mas eles vendem muito por lá, defensivos agrícolas. Mas isso não é só no
Brasil, é no mundo inteiro.
Martha Wolff: E esse ramo de carro, de auto-peças?
Henrique
Tiago: É tudo da China. E o que acontece? Eles produzem a coisa de primeira
qualidade, de segunda qualidade, até de quinta qualidade. O mercado vai comprar
o tênis Adidas, não é feito nos Estados, nem na Alemanha, ele é feito na China,
na Malásia. Agora tem a supervisão do controle da Adidas. Essa foi a forma de
se manter aquele povo lá. Os grandes conglomerados. E se esses caras vierem pra
cá?
Martha Wolff: Itaboraí está cheio de chinês. Mais
chegando a cada dia.
Henrique
Tiago: Eles vem atraídos pelo petróleo. O petróleo paga muito bem. Eu tenho um amigo que veio da Itália há uns dois anos
atrás, ele trabalhou muitos anos na Itália como guia turístico. Ele tem uma boa
formação, hoje ele tem uma grande empresa no Mato Grosso do Sul. Ele falou que na Itália tem muita relação comercial com a China.
Martha Wolff: Eu soube essa semana que a Itália vive
uma crise como nunca houve em 60 anos - seu amigo falou algo sobre isso!
Henrique
Tiago: Ele chegou faz 2 anos - mas hoje eu acompanhei na imprensa que Portugal
está na mesma situação, que a Europa está muito preocupada com a situação de
Portugal!
Martha Wolff: Então esse ano de eventos
Brasil/Portugal não deve estar dando muito certo!
Henrique
Tiago: O que eu sei é que o mundo inteiro está assim, Itália, Portugal,
Irlanda, Grécia, Inglaterra, França.
Martha Wolff: A tendência é o Brasil ser uma potência.
Henrique
Tiago: Eu não acredito não.
Martha Wolff: O senhor acha que vai ter crise no
Brasil, agora?
Henrique
Tiago: Já está havendo, eu acho que já estamos numa crise.
Martha Wolff: Essa venda de carros assim exorbitantes,
daqui um pouco todo mundo já está com dificuldades de pagar.
Henrique
Tiago: Isso é só pra tirar os estoques que estavam encalhados. Não tinha mais
espaço pra guardar. Lá fora eles não compraram. Aqui não se comprou, lá fora
não se conseguiu exportar - tudo parado aí.
Martha Wolff: Esse mercado de auto-peças. Está bom?
Henrique
Tiago: Ah! Está horrível, é o pior seguimento do comércio que existe. Mas se
você for na Amoedo, Leroy Merlin, o estacionamento está cheio. Você tenta achar
um pedreiro, não consegue. Um pedreiro há ano atrás ganhava 30 reais, 40, 50 um
bom pedreiro. Hoje em dia é 150 - e não acha! Não tem. Construção - esse
segmento é bom.(Agora você não acha um pedreiro). Desde um servente! Um
servente que ganhava 30 - hoje ganha 70 reais.
Martha Wolff: O senhor está construindo? Porque o
senhor está bem atualizado nessa parte.
Henrique
Tiago: A gente sempre faz alguma coisa. Mas não existe mais esse mercado de mão
de obra, não existe mais.
Martha Wolff: O senhor teria vontade de entrar para
esse ramo de construção?
Henrique
Tiago: Ah, eu tenho vontade é de descansar.
Martha Wolff: Mas aqui o senhor está num ótimo ponto.
Henrique
Tiago: É, mas eu estou muito desanimado com esse comércio! Você compra um
produto hoje, daqui 15 dias já subiu o preço.
Reinaldo Wolff: Que mensagem o senhor passa para os
nossos leitores?
Henrique
Tiago: Desista! Aquela loja ali está para alugar há um ano. Na Amaral Peixoto
tem mais 3 ou 4.
Reinaldo Wolff: Qual o ramo de comércio que está bom?
Henrique
Tiago: Só construção. E comida. Sacolão. Verduras. E restaurante, self service.
O pessoal não tem mais tempo de ir em casa, ou de trazer marmita. Porque leva
duas horas de carro para chegar no trabalho.
Martha Wolff: O senhor tem filhos que estão seguindo
outras carreiras?
Henrique
Tiago: Eu tenho uma filha que estuda.
Martha Wolff: E a opção dela foi qual?
Henrique
Tiago: Geologia.
Martha Wolff: Vai entrar para a Petrobrás?
Henrique
Tiago: Eu não sei!
Henrique Tiago - Jose Auto Peças e Serviços
Automotivos - Niterói.
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Revista do Diretor Lojista, entrevista a escritora Ana Maria Wolff – Reportagem de Capa sobre a Nova Constituição, e
um momento econômico durante o 29º Congresso de Diretores Lojistas em São
Paulo.
Agosto 1988 (porém o tema está atualíssimo, e responde ao
assunto do nosso entrevistado para não desanimar).
DL: Quais os conselhos que a senhora daria ao empresário
lojista, neste momento tão difícil?
MW: Iniciativa particular: quanto maior, melhor. Muita
iniciativa e criatividade máxima, pois tudo que é criativo e diferente, vende.
Não desistir nunca. Entusiasmo é fundamental.
DL: Em suma - este semestre ainda será difícil, mas pode
se ter esperanças para 1989?
MW: Eu dou total esperança e força para a pessoa
prosseguir, vivemos momentos difíceis, mas se você souber que está participando
de uma era de reconstrução, de replanificação de metas, é nossa obrigação
participar. Deve-se dar força para a pessoa ter coragem e não ficar só
aplicando no overnight, procurando só tirar dinheiro de investimento. A pessoa
que só investe no mercado financeiro não está fazendo crescer o País. Portanto,
acreditando naquilo que está produzindo, a pessoa tem condições de ganhar
dinheiro acima do over. Além disso, estará participando de uma tremenda empresa
que é o Brasil. Ninguém quer deixar de ser brasileiro, quer? Todos falam: “Este
Brasil não tem jeito; o Brasil é isso e aquilo”. Mas pergunte se o brasileiro,
voluntariamente, quer deixar de ser brasileiro!
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