segunda-feira, 29 de abril de 2013

Juza Peças e Serviços em entrevista exclusiva à Equipe Wolff

Projeto Expansão AFI 2013

É um bairro de Niterói populoso, e numa loja de esquina, muito bem situada, encontramos um lojista desanimado quanto ao futuro dos negócios.
Fala Henrique Tiago sobre a situação de seu ramo de comércio automotivo e autopeças, numa segunda-feira às nove horas da manhã: Enrico Domenico, ele é um italiano que se auto intitula um dos últimos filósofos. Ele disse que na China existe essa necessidade de se produzir lá - eles invadiriam os outros países. Então para controlar, para deixar aquele povo lá, da forma que o mundo ocidental conseguiu - é essa. Deixar eles produzirem. Só que eles não conseguem “conceber”. A concepção, a criação, é do ocidente. Tanto o modelo, as características técnicas, eles não tem muita capacidade, eles não produzem... Eles não têm visão. Então o que acontece? O fato de isso ser uma verdade - uma necessidade: eles se manterem por lá - só que eles resolveram dominar o mundo com isso. Desde um palito de fósforo, hoje em dia, às peças de um avião são produzidos por eles. E a indústria nacional está sofrendo!

Reinaldo Wolff: É um mar de guerra!
Henrique Tiago: O que o Brasil está produzindo? Ele vive de recursos naturais, vive de soja, batata, arroz, feijão, vive disso. Porque produção industrial - o que o país produz? Não produz mais nada! Tudo que você comprar é da China. Até os defensivos agrícolas, eles não têm como produzir lá - então eles compram daqui - Mas eles vendem muito por lá, defensivos agrícolas. Mas isso não é só no Brasil, é no mundo inteiro.

Martha Wolff: E esse ramo de carro, de auto-peças?
Henrique Tiago: É tudo da China. E o que acontece? Eles produzem a coisa de primeira qualidade, de segunda qualidade, até de quinta qualidade. O mercado vai comprar o tênis Adidas, não é feito nos Estados, nem na Alemanha, ele é feito na China, na Malásia. Agora tem a supervisão do controle da Adidas. Essa foi a forma de se manter aquele povo lá. Os grandes conglomerados. E se esses caras vierem pra cá?

Martha Wolff: Itaboraí está cheio de chinês. Mais chegando a cada dia.
Henrique Tiago: Eles vem atraídos pelo petróleo. O petróleo paga muito bem. Eu tenho um amigo que veio da Itália há uns dois anos atrás, ele trabalhou muitos anos na Itália como guia turístico. Ele tem uma boa formação, hoje ele tem uma grande empresa no Mato Grosso do Sul. Ele falou que na Itália tem muita relação comercial com a China.

Martha Wolff: Eu soube essa semana que a Itália vive uma crise como nunca houve em 60 anos - seu amigo falou algo sobre isso!
Henrique Tiago: Ele chegou faz 2 anos - mas hoje eu acompanhei na imprensa que Portugal está na mesma situação, que a Europa está muito preocupada com a situação de Portugal!

Martha Wolff: Então esse ano de eventos Brasil/Portugal não deve estar dando muito certo!
Henrique Tiago: O que eu sei é que o mundo inteiro está assim, Itália, Portugal, Irlanda, Grécia, Inglaterra, França.

Martha Wolff: A tendência é o Brasil ser uma potência.
Henrique Tiago: Eu não acredito não.

Martha Wolff: O senhor acha que vai ter crise no Brasil, agora?
Henrique Tiago: Já está havendo, eu acho que já estamos numa crise.

Martha Wolff: Essa venda de carros assim exorbitantes, daqui um pouco todo mundo já está com dificuldades de pagar.
Henrique Tiago: Isso é só pra tirar os estoques que estavam encalhados. Não tinha mais espaço pra guardar. Lá fora eles não compraram. Aqui não se comprou, lá fora não se conseguiu exportar - tudo parado aí.

Martha Wolff: Esse mercado de auto-peças. Está bom?
Henrique Tiago: Ah! Está horrível, é o pior seguimento do comércio que existe. Mas se você for na Amoedo, Leroy Merlin, o estacionamento está cheio. Você tenta achar um pedreiro, não consegue. Um pedreiro há ano atrás ganhava 30 reais, 40, 50 um bom pedreiro. Hoje em dia é 150 - e não acha! Não tem. Construção - esse segmento é bom.(Agora você não acha um pedreiro). Desde um servente! Um servente que ganhava 30 - hoje ganha 70 reais.

Martha Wolff: O senhor está construindo? Porque o senhor está bem atualizado nessa parte.
Henrique Tiago: A gente sempre faz alguma coisa. Mas não existe mais esse mercado de mão de obra, não existe mais.

Martha Wolff: O senhor teria vontade de entrar para esse ramo de construção?
Henrique Tiago: Ah, eu tenho vontade é de descansar.

Martha Wolff: Mas aqui o senhor está num ótimo ponto.
Henrique Tiago: É, mas eu estou muito desanimado com esse comércio! Você compra um produto hoje, daqui 15 dias já subiu o preço.

Reinaldo Wolff: Que mensagem o senhor passa para os nossos leitores?
Henrique Tiago: Desista! Aquela loja ali está para alugar há um ano. Na Amaral Peixoto tem mais 3 ou 4.

Reinaldo Wolff: Qual o ramo de comércio que está bom?
Henrique Tiago: Só construção. E comida. Sacolão. Verduras. E restaurante, self service. O pessoal não tem mais tempo de ir em casa, ou de trazer marmita. Porque leva duas horas de carro para chegar no trabalho.

Martha Wolff: O senhor tem filhos que estão seguindo outras carreiras?
Henrique Tiago: Eu tenho uma filha que estuda.

Martha Wolff: E a opção dela foi qual?
Henrique Tiago: Geologia.

Martha Wolff: Vai entrar para a Petrobrás?
Henrique Tiago: Eu não sei!


Henrique Tiago - Jose Auto Peças e Serviços Automotivos - Niterói.

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Revista do Diretor Lojista, entrevista a escritora Ana Maria Wolff – Reportagem de Capa sobre a Nova Constituição, e um momento econômico durante o 29º Congresso de Diretores Lojistas em São Paulo. 
Agosto 1988 (porém o tema está atualíssimo, e responde ao assunto do nosso entrevistado para não desanimar). 
DL: Quais os conselhos que a senhora daria ao empresário lojista, neste momento tão difícil?
MW: Iniciativa particular: quanto maior, melhor. Muita iniciativa e criatividade máxima, pois tudo que é criativo e diferente, vende. Não desistir nunca. Entusiasmo é fundamental.
DL: Em suma - este semestre ainda será difícil, mas pode se ter esperanças para 1989?
MW: Eu dou total esperança e força para a pessoa prosseguir, vivemos momentos difíceis, mas se você souber que está participando de uma era de reconstrução, de replanificação de metas, é nossa obrigação participar. Deve-se dar força para a pessoa ter coragem e não ficar só aplicando no overnight, procurando só tirar dinheiro de investimento. A pessoa que só investe no mercado financeiro não está fazendo crescer o País. Portanto, acreditando naquilo que está produzindo, a pessoa tem condições de ganhar dinheiro acima do over. Além disso, estará participando de uma tremenda empresa que é o Brasil. Ninguém quer deixar de ser brasileiro, quer? Todos falam: “Este Brasil não tem jeito; o Brasil é isso e aquilo”. Mas pergunte se o brasileiro, voluntariamente, quer deixar de ser brasileiro!

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