Projeto Expansão AFI 2013 – “Você É Muito Importante Para Nós” © Equipe Wolff
Eis aqui um relato dramático.O desafio de evolução que enfrentou, propicia uma mudança fundamental: A busca da realização.
Leia agora a vitória de Luciana Barboza:
REINALDO WOLFF: O que gostaria de comentar sobre o momento em seu ramo de atividade, que é a área jurídica?
LUCIANA
BARBOZA: Bom, vou falar pessoalmente, ok? Eu comecei a fazer direito sem
nenhuma estrutura. Eu não tinha pai rico, eu não tinha pai juiz, eu não tinha
ninguém conhecido juridicamente. Então, quando eu comecei a fazer Direito, por
essas duas perspectivas, eu tinha como meta um concurso público! Só que no
passar dos tempos, eu passei a ser uma pessoa conhecida, passei a advogar, e
hoje advogo dentro das minhas possibilidades, bastante. E eu não imaginava que
iria advogar.
REINALDO
WOLFF: Então você encontrou o seu lugar ao sol!
LUCIANA
BARBOZA: Encontrei! Eu ainda não tenho uma estabilidade porque eu comecei a
advogar “ontem”, praticamente. Tem dois anos que eu estou advogando. Terminei
em 2009. Mas é por aí que eu quero continuar! Entendeu? Esse é o caminho...
Ainda que eu venha a ser uma professora, ainda que eu venha até estudar para
concurso, eu não quero deixar a advocacia. Advocacia é o meu caminho!
LUCIANA
BARBOZA: Exatamente!
REINALDO
WOLFF: É uma bela mensagem. Agora, dá para acreditar na livre iniciativa do
Brasil de hoje? Ou você acha que as pessoas precisam ser concursadas?
LUCIANA
BARBOZA: Eu acho que o problema do Brasil é a corrupção, não é? Eu acho que o
Brasil, ainda falta muita infraestrutura, e muita educação, ainda. A educação
melhorou? Melhorou! A saúde, não. Mas a educação deu uma melhorada. Mas ainda
falta muito! Então eu acho assim, o que está faltando hoje pro Brasil é uma boa
infraestrutura, para que dê essa iniciativa, entendeu? Porque o Brasil ainda
está muito precário, em termos de tecnologia.
REINALDO
WOLFF: Você concordaria com o meu pensamento de que o que falta para o nosso
país não são só as leis, mas sim aumentar a assistência social?
LUCIANA
BARBOZA: Com certeza! Mas não assistência social de “bolsas”, não é? Bolsa
Família, Bolsa não sei o que...
REINALDO
WOLFF: Não, não. Assistência social no sentido humanístico, verdadeiro...
LUCIANA
BARBOZA: Com certeza. Tem que dar estrutura. Estrutura para um pai, uma mãe
sair para trabalhar.
REINALDO
WOLFF: ... saber o que vai ser dele, do jovem, do futuro. E acompanhar de perto
as famílias.
LUCIANA
BARBOZA: Exatamente. Falta a educação verdadeira. Educação não é aquela que
você chega numa escola e aprende “A”, “B”... Educação é uma forma de você saber
como agir no dia a dia. Educar mesmo. Nosso país precisa de educação, e de
estrutura.
REINALDO
WOLFF: Por falar em estrutura, eu admiro, com todo o respeito, o seu esforço...
Porque eu vejo que, de fato, foi grande...
LUCIANA
BARBOZA: Muito!
A Presença de um pai muitas vezes se faz marcante, até mesmo na sua ausência.
REINALDO
WOLFF: E conta-nos, como é que foi desde menina, até chegar hoje à Doutora,
formada em direito?
LUCIANA
BARBOZA: Eu costumo dizer que eu era princesa e virei plebeia. Porque eu tive
um pai que me deu tudo! Eu tive uma infância maravilhosa. Então, até os meus 20
anos, foi tudo perfeito. Eu tive um pai, uma mãe... Eu tive uma família! Porque
poucas pessoas têm essa oportunidade, não é? Eu tive uma família maravilhosa. O
meu pai e minha mãe viveram a vida toda juntos, um casamento com harmonia. Eu
acho que isso foi muito importante para o meu futuro. Acho que essa estrutura
que eu adquiri, do respeito familiar, do respeito ao próximo, respeito ao mais
velho - e que hoje você vê pouco... Eu acho que isso, pra mim, foi fundamental
pra quando eu precisei! Então eu tive uma infância, uma adolescência e uma
juventude, muito boas em termo de família e até em termos de situação
financeira. Pois muito bem, meu pai era comerciante. Ele era cozinheiro
profissional, resolveu depois trabalhar por conta própria, passou a ser
comerciante e eu fui trabalhar com ele. E, ele adoeceu, e veio a falecer. E
quem tinha o dom para o comércio era ele. Eu não tinha! Eu só ajudava. E quando
ele morreu, toda aquela estrutura financeira foi por água abaixo. Tudo que nós
tínhamos, nós perdemos. A começar pelo nosso pai. Perdemos a estrutura da casa,
e perdemos toda a parte financeira. Porque um comércio só sobrevive com
movimento, não é? E quando ele começou a ficar muito doente, eu já comecei a
trabalhar aqui... Como eu disse, a Graça de Deus, nota-se que está presente na
minha vida o tempo inteiro. Eu acho que Deus já tinha me colocado aqui para eu
ter um rumo.
O desafio de evolução que enfrentou propicia uma mudança de trajetória e de busca de realização.
LUCIANA
BARBOZA: E eu fiquei dois anos ainda trabalhando aqui, com o comércio. E um
belo dia, entraram duas pessoas que faziam fiscalização de menor, dentro de
comércio, e tinham menores dentro do comércio. E queriam me levar presa...
Passei por um constrangimento muito grande... Ali eu decidi fazer Direito!
Então ali eu não tinha conhecimento jurídico nenhum, de nada! Estava iniciando
o meu trabalho. Tinha pouco tempo de trabalho aqui, e eu não tinha conhecimento
jurídico nenhum. E naquele dia eu fui muito humilhada. Porque infelizmente,
essas pessoas não sabem como lidar com as pessoas que não têm conhecimento!
Eles impõem o poder! Eles impõem uma força...
REINALDO
WOLFF: Às vezes até mesmo na truculência.
LUCIANA
BARBOZA: E eu reagi. E eles queriam me levar presa, inclusive. Uma coisa que
não existe! Totalmente arbitrária, abusiva! E eu disse que não iria, e os meus
fregueses, os clientes, também... Foi horrível! Um constrangimento muito
grande! Então ali eu decidi, a fazer direito. Então eu cheguei em casa,
conversei com a minha mãe, e falei - “Olha, vamos estruturar a nossa família.
Eu vou continuar trabalhando na UNIVERSO, e nosso padrão de vida vai cair
muito!”. Porque, uma coisa é você ter um comércio. Outra coisa é você
sobreviver de um salário... O salário que é fixo por mês. E os meus irmãos -
uma era menor, e eu tinha um irmão também. Eu já era casada, já tinha um filho.
E todas as pessoas da minha família viviam desse comércio! O meu marido, meu
irmão, minha irmã, trabalhavam no comércio! Porque era um comércio muito
grande. Era algo que dava para uma família inteira...
REINALDO
WOLFF: Vocês comercializavam o que? Alimentos?
LUCIANA
BARBOZA: Era bar e mercearia. Era um comércio familiar, e que final de semana
tinha angu baiano, dobradinha. E que iam famílias lá, comer. Tomar sua
cervejinha, comer. Era um comércio muito grande! Era o maior e melhor comércio
do bairro! Se você chegasse em um domingo, uma hora da tarde, não tinha mais o
que comer!
REINALDO
WOLFF: Era aqui na região?
LUCIANA
BARBOZA: Não, em Itaboraí! No Apolo II. O comércio do meu pai era o melhor do
bairro! Tanto que eu passei para outras pessoas, e não deu certo! Hoje abriu um
sacolão lá. E é o melhor sacolão da região. É o melhor ponto da região. Nosso
comércio era muito bom. Então eu sentei com a minha mãe e falei pra ela -
“Olha, nossa situação financeira vai ser outra. Nós vamos aprender a andar de
ônibus... Não vamos sair todo final de semana. Vamos começar a nossa vida!
Vamos recomeçar... A senhora vai tomar conta do meu filho”. Eu devo muito à
minha mãe! Se hoje eu sou o que sou, foi porque ela ficou com o meu filho, eu
não precisei pagar ninguém. Meu filho não foi criado por uma pessoa estranha.
Ele foi criado pela minha mãe! Pela avó dele...
O drama vivido pela perda do pai, e a necessidade de uma defesa – faz despertar uma vocação jurídica.
REINALDO
WOLFF: Que bonito isso... Amor de família.
LUCIANA
BARBOZA: ... e eu vim à luta! E aí eu falei pra ela - “Eu vou fazer Direito.
Porque ninguém, nunca mais, vai fazer aquilo que aconteceu”. E naquele dia eu
decidi ingressar nessa carreira jurídica!
REINALDO
WOLFF: É uma bela mensagem! Agora, que mensagem de vida você acha que seu pai
deixou para você?
LUCIANA
BARBOZA: Muitas! Primeiro, o amor. O amor à família, e o amor ao próximo. Meu
pai tinha uma coisa de muito bom com ele. Que eu vi em poucas pessoas. Tudo que
meu pai tocava, virava ouro. Meu pai sabia ganhar dinheiro.
REINALDO
WOLFF: O dom do Midas.
LUCIANA
BARBOZA: Isso. Tudo que ele se propõe a fazer, ele ganhava dinheiro. Mas ele
era o tipo da pessoa que você tirava a roupa do corpo dele... Ele não era preso
a nada. Ele era totalmente desprendido. Ele não tinha - “Eu tenho! E você não
tem!”. Era - “Eu tenho? Então pode ser pra mim e pra você!”.
REINALDO
WOLFF: Ele era generoso...
LUCIANA
BARBOZA: Muita coisa! Amor à família... Porque meu pai viveu pra família
inteira. Como esposo, como pai. Amor ao próximo... Porque ele não sabia estar
numa situação boa e ver o próximo, numa situação difícil, e não ajudar... E
batalhador! Meu pai foi muito batalhador.
REINALDO
WOLFF: Seu pai foi vítima de pneumonia?
LUCIANA
BARBOZA: Não, não. Meu pai foi para uma pescaria. Nessa pescaria, o germe do
caramujo entrou no fígado, e deu cirrose hepática, esquistossomose. Ele viveu
10 anos ainda. Mas tinha que fazer um transplante de fígado, e a gente não
sabia, não tinha muito conhecimento. Fez tratamento. A gente achou que estava
curado, mas não estava!
REINALDO
WOLFF: Luciene, a sua entrevista é uma das mais tocantes, no sentido
humanístico, pelo drama vivido. E que nossa Equipe lhe dá total apoio,
respeitamos, e agradecemos a sua entrevista!
LUCIANA
BARBOZA: Poxa, obrigada! Eu que fico grata pela oportunidade de poder falar...
Digitação: Vitória Wolff
Editoração: Arthur Wolff
Fotos: Reinaldo Wolff
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