terça-feira, 18 de setembro de 2012

Entrevista da artista Myriam Jehane Ciconha ao jornalista Reinaldo Wolff

Temos agora a entrevista de uma artista em ascensão. Que está preparando seu show, CD, e programa de TV. Culta e sensível está em plena ebulição de arte e criatividade. Vamos conversar com MYRIAM JEHANE CICONHA.

REINALDO WOLFF: Como será seu programa na TV Zoom - Nova Friburgo? O que levou você a ter um Programa de TV em Friburgo?
JEHANE: Morei muitos anos em Friburgo. Dos 9, 10 aos 18 anos. E eu tenho um carinho muito especial pela cidade. E por conhecer como as pessoas pensam, o que as pessoas precisam, né? Eu tive essa idéia, essa intuição. Porque a minha vida funciona muito com intuições, assim, né? Eu sonhei que eu precisava voltar pra Friburgo, pra montar um programa de TV lá. E há muito tempo atrás, um amigo meu me disse que eu iria voltar pra Friburgo. Que eu ia me comunicar com essas pessoas, já do âmbito profissional. E a minha idéia de fazer esse programa, que se chama A PONTE, é exatamente criar uma conexão, um intercâmbio, entre as culturas. É fazer a ponte entre as duas cidades, Rio de Janeiro e Friburgo, ou mais coisas, mais cidades. Sempre apontando esse âmbito cultural, curiosidades. Sempre diversidades. Sempre no âmbito cultural mesmo, artístico. Um programa social/cultural.


REINALDO WOLFF: Consegue conciliar as atividades de cantora e apresentadora?
JEHANE: Por enquanto eu ainda estou gravando o CD. Eu passei da fase de registrar as composições. Passei um tempo construindo esse álbum. Eu mesma que compus as músicas. E agora eu registrei, então eu to numa fase ainda de gravar. E aí eu estou com um espetáculo pro final do ano, que na verdade é um teatro musical no SESC do Rio de Janeiro, Barra. Então eu estou com esse espetáculo, e agora com o programa de TV e com as gravações do CD.

REINALDO WOLFF: Até que ponto a veia artística de seu pai influi em sua vida?
JEHANE: É incrível isso porque eu não percebia o quanto que eu tenho de interesses, de jeito de me colocar, é muito parecido com meu pai. Muito incrível isso. Porque meu pai é jornalista, eu sou jornalista. Meu pai é ator, eu sou atriz. Meu pai é cantor, eu sou cantora. Eu acho que eu pegue um jeito dele, até a personalidade um pouco forte, difícil. Eu acho que eu puxei mesmo o meu pai. Ele também tem essa questão com a comunicação. Até porque ele foi radialista, então ele tinha essa coisa de comunicação em massa, de se comunicar, de influenciar pessoas.

REINALDO WOLFF: Você fez jornalismo aonde?
JEHANE: Eu comecei na UCAM, Cândido Mendes, no Rio. E fui da primeira turma de jornalismo lá. E depois eu me formei na UNIVERCIDADE, na Lagoa. Foi bom porque uma me deu uma base mais teórica e outra mais prática.

REINALDO WOLFF: Você também é poetiza?
JEHANE: Eu também sou poetiza. Eu tinha um livro de poesias que eu fazia quando eu era muito adolescente. Eu já fiz inauguração de alguns livros, alguns autores, recitando poesia com teatro. E eu também escrevia poesia. Uma das poesias que já estava escrita, eu fiz a música depois também.

REINALDO WOLFF: Qual o estilo de vida que para você seria o ideal?
JEHANE: O estilo de vida ideal é aquele estilo um pouco mais desapegada, que tá aberta às diferenças, que tolera as diferenças mesmo do ser humano. Porque eu acho que as pessoas tem muita dificuldade em tolerar as diferenças. Eu acho que isso é uma grande questão no mundo de hoje. Porque senão, não haveria guerra... A gente toleraria o jeito de ser e de pensar alheio. Então eu acho que o melhor jeito de vida é você estar aberto à vida, sem pré julgamentos. E pré disposto a conhecer e a ver tudo que você não sabe, e precisa saber.

REINALDO WOLFF: Eu concordo que tem que ter uma mente aberta. Mas até que ponto isso deve ser aceito pelo ser humano? Vai de pessoa para pessoa porque - como eu sou acadêmico em Direito eu vejo que há necessidade da adequação aos termos sociais atuais.
JEHANE: Concordo plenamente. E concordo também com essas teorias que foram criadas na Revolução Francesa.

Reinaldo Wolff: Que idéias de carreira você tem, para o momento?
JEHANE: O meu trabalho também ele antecede e se origina, ele germina a partir da dança do ventre. Porque sou por parte de mãe, originária do Líbano. Aprendi a dançar lá com Cara Callas, e algumas professoras em aula particular. E a dança do ventre, na verdade, há um conceito muito errado no mundo Ocidental, no Brasil.

REINALDO WOLFF: Ninguém pode perder esse show.
JEHANE: Claro! A energia da mulher é a energia que fecunda, que fertiliza. É como se fosse uma terra que é a mãe. A nossa pátria, a nossa mãe, por exemplo. Quando a gente tem a terra que é fértil, que nos dá comida, alimentos, também é uma simbologia que é a terra, é a mulher, tem que ser respeitada. Então continuando, a minha idéia nesse momento é fazer esse programa, que eu acho que tem uma missão social. É trazer novos horizontes para as pessoas. Ajudar através da arte transformadora, geradora. E também com os meus shows. Com a gravação do CD pretendo fazer uma turnê talvez pelo Brasil ou algumas pequenas cidades do interior. Para apresentar estas ideias. Porque as pessoas ainda não sabem tanto e têm uma certa curiosidade.

REINALDO WOLFF: Como foi sua formação cultural - escola - profissional?
JEHANE: A minha formação cultural ela se dá num âmbito que envolve os dois continentes. Envolve um pouco da Ásia, porque eu viajava muito para o Líbano com os meus familiares. Europa. E também um pouco a América Latina. Então essa questão cultural foi um pouco difícil as pessoas entenderem. Eu sentava na mesa para jantar e eram pessoas falando árabe, francês, outras em espanhol, e outras falando português. Então, imbuído dentro dessas línguas, tinham valores que eram expressados por cada um e ao mesmo tempo. A gente tinha que ultrapassar essas barreiras! É questão cultural mesmo. E tem tudo a ver com o meu trabalho. Eu tento falar isso. Eu canto músicas em outros idiomas. Espanhol, inglês e um pouco também de árabe. Fiz Aliança Francesa, me formei. É interessante que a Aliança dá uma bagagem cultural. Tudo isso me deu “material humano”, que é como se fala na arte. Que eu tenho um material humano diverso, digamos assim. Vivência. Experiência. Na Venezuela, até ano passado, com minha família, eu vivi toda essa época de Chaves no poder, da Ditadura. Tem sempre uma diversidade cultural muito grande em minha vida.

REINALDO WOLFF: Você, jovem ainda, traz uma bela bagagem cultural. Isso é muito importante. E como vê o futuro?
JEHANE: É exatamente. Porque nós temos hoje em dia o mundo da comunicação, cada um chama de uma coisa, em árabe é formação. Existe o lado positivo nisso porque a gente tem acesso a informação. É mais rápido. Isso faz que a gente devolva um senso de julgamento pelos fatos, mas por outro lado a gente tem uma descarga imensa de informações. O que gera no ser humano muito estresse. As pessoas ficam sobrecarregadas de muitas coisas pra fazer, resolver, pensar, e digerir. Por outro lado tem o fator positivo. Hoje a gente está exatamente na encruzilhada entre o bem e o mal. O ser humano já sabe escolher, já sabe ver o joio do trigo. A gente tem que se posicionar. O bem tem que se unir com o bem. E muito do meu trabalho tem sido batalhar pelo bem, pela justiça e pela verdade.

REINALDO WOLFF: Ótimo! Pode continuar. Que planos faz para o futuro?
JEHANE: Só pra complementar em relação ao futuro. Existe uma coisa primordial para o ser humano. Não é o sistema ser transformado. A gente podia estar no socialismo, poderia estar numa ditadura, num capitalismo ao extremo, onde há privatizações no âmbito internacional. O que eu acho que faz a diferença nesse momento é o indivíduo, o ser humano. Cada um tem que prezar por valores. Ser mais justo e verdadeiro.

REINALDO WOLFF: Que planos faz para 2013?
JEHANE: A gente já está se preparando. Porque o Brasil vai ter uma expressão forte a nível mundial. E eu gostaria de participar desse movimento social todo. Então em 2013 espero já estar mostrando um pouco do que eu venho preparando ao longo desses 4 anos, desde 2009. Espero já estar pondo em prática e contando um pouco do que eu venho produzindo como artista.

REINALDO WOLFF: E quanto a Nova Friburgo - ainda acha que existem riscos muito fortes? E o que pode ser feito?
JEHANE: Aspecto todo de riscos - Friburgo na verdade é o retrato da humanidade. A gente tem que cuidar da natureza, respeitar senão a natureza vai ser revoltar. A transformação da consciência, ela afeta também o meio ambiente. É necessário as pessoas se conscientizarem, enfim não jogar lixo, tudo isso. Vai depender muito agora, da questão política nesta fase de eleições. Vai depender muito dessas transformações todas. Eu não posso prever. Eu acho que o Deus faz as coisas que tem que ser. Infelizmente, há males que vêm para o bem. A gente não pode controlar tudo. Existem coisas incontroláveis.

REINALDO WOLFF: Como é a sua forma de religião?
JEHANE: É uma grande questão. O meu pai é judeu. Minha mãe é libanesa. Duas regiões que permanecem em conflito.

REINALDO WOLFF: Você se converteu ao judaísmo?
JEHANE: Eu acredito em primeiro lugar laqueia questão do ser humano. Eu acredito muito na religião. Eu sou muito religiosa, tenho muita religiosidade. Em termos institucionais, eu tenho restrições. Pelo âmbito das justificativas do ser humano em nome de alguém ou alguma coisa. Todas as religiões são boas a partir do momento em que a gente não justifique a matança em nome de alguma coisa. Até porque a mensagem de Deus é “olhe para o outro ser humano como a si mesmo”. Essa questão é muito forte. Eu olho para aquilo e vejo que existe uma condição de ideologia. A terra é de tudo e de todos. Eu fui na casa de Kalil Gibran, lá no Líbano e saí de lá chorando. Foi uma experiência única. Porque Gibran estava acima da hipocrisia humana. Meu pai diz uma frase para mim. Acho que é uma frase muito profunda: “O artista, o ser que está inspirado por uma luz, ele tem duas almas. O artista está acima de tudo”.

Um comentário:

  1. Bela entrevista. Curiosamente também faço esta ponte Rio x Friburgo. Boa sorte em seu novo projeto. P.S.: Você foi na casa de Khalil Gibran?! Nossa! Um dia ainda irei lá! Luz e força!

    Visite: horizontehostil.blogspot.com

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