domingo, 28 de outubro de 2012

Viver em Cristo

“MEDITAÇÕES DE UM PADRE”

Entrevista exclusiva ao Jornalista Reinaldo Wolff, AFI 253 - MT 27672

José Otácio Oliveira Guedes



Pe. José: Aqui tem uma fala em Deuteronômio “Não deveria eu beber o cálice que o Pai me deu?”. Veja, tem coisas que por permissão divina ou vicissitudes que a pessoa teve - mas aqui é “o meu cálice”. Tenho de tomá-lo! Não posso fugir dele. Não posso ficar culpando os outros. É o meu cálice! - eu entendo a vida assim. É o meu modo de enfrentar a vida. Não ficar choramingando e se auto-compadecendo. Se a pessoa chega a ser perseguido, deve ter tido algumas atitudes. Corretas? Incorretas? Mas que têm as suas conseqüências. Quando a gente faz as coisas, a gente não sabe todas as conseqüências. Mas as minhas escolhas eu tenho de ser responsável por elas.


Reinaldo Wolff: Quando percebeu sua vocação religiosa?

Pe. José: Conscientemente eu me percebi querendo ser padre - eu tinha 14 anos. Antes disso eu orava. Minha mãe disse que eu seria. Aos 14 anos com a confissão ao sacerdote, Padre Fausto, eu não tinha preparado essa fala antes, mas após a confissão eu disse: quero ser Padre! Naquele momento era tão verdadeiro o meu desejo que se quisesse me ordenar Padre naquele momento, eu estaria disposto.


Reinaldo Wolff: O que é o verdadeiro cristão?
Pe. José: A gente ser obediente na fé. Dar um foco à pessoa crente, a tudo que faz na fé. 

Reinaldo Wolff: O que pensa sobre o perdão?
Pe. José: É tão essencial à vida do cristão quanto qualquer outra coisa que o definisse. Como disse, por exemplo, a fé. O perdão diz respeito à uma atitude de alguém que faz transbordar uma vida de fé. Se ele tem o perdão de Deus, seria estranho ele não perdoar.

Reinaldo Wolff: Como é a vida de um religioso? A vida de um padre e de um pastor é diferente um de outro?
Pe. José: As exigências são diferentes. Eu penso que é assim - eu não conheço muito o meio dos pastores - mas pelo pouco que nós percebemos... Ele já é quase uma pessoa que tem algum carisma. E quando por vezes procura alguma preparação acadêmica... Porque baseado no carisma, e mais algum curso intensivo de alguns meses, ou uma leitura por si mesmo da Bíblia, ele se apresenta como tal. Agora - o sacerdote - o padre católico, a Igreja entende que mesmo essa unidade nossa vocacionada chamada por Deus. Mas tem que ser modelada. Nos moldes do Bom Pastor. Isso a Igreja que é mãe, ela tem que ter a justa medida para transformar. Daí o itinerário não é menos de oito anos de preparação. 

Reinaldo Wolff: Com o devido respeito, permita-me a pergunta, política e religião andam juntos?
Pe. José: Enquanto ambas buscam o bem das pessoas, andam juntas. Sabendo que a política é apenas “um meio para...” - nunca um fim. Pode-se entender a religião como a relação com Deus. Por si ela é “fim”. 

Reinaldo Wolff: Por isso que se falou “Dai a Cezar o que é de Cezar”. Define exatamente o que é da política e o que não é. 
Pe. José cita: “Meu Reino não é deste mundo”. E a política não busca outra definição, senão, a de “melhorar o reino daqui”.

Reinaldo Wolff: Qual a sua opinião sobre a Igreja e a política atual?
Pe. José: É um tempo conturbado esse nosso, não é? Essa política de prefeituras, pelo menos aqui (Itaboraí), eu não senti, não dei muita atenção. Mas na eleição passada tivemos alguns pastores, bispos, que se sentiram no dever de se levantar diante do tema “Aborto”. Embora a política não veja como tema religioso, mas por si não é um tema religioso. É um tema de toda pessoa de princípios. É ligado à lei natural que a vida. A Igreja, eu vejo assim, ela tem sempre que falar dos valores. E com mais razão, do valor: vida.

Reinaldo Wolff: Qual a sua forma de acreditar em Deus?
Pe. José: A minha forma de acreditar é essa - Eu vejo Deus sempre assim tão próximo, que eu sinto que a minha forma de acreditar, como cristão é: é o ar que eu respiro, são as coisas que eu faço, é estar aqui com você agora conversando, é uma maneira de expressar essa relação com Deus. 

Reinaldo Wolff: O que acha dos padres cantores?
Pe. José: Veja, tudo que tem a marca humana, ela tem um quê de ambigüidade. Também isso, não é? Ora, cantar pode ser um meio de evangelização. 

Reinaldo Wolff: O que pensa da teoria da prosperidade?
Pe. José: Eu penso que é uma percepção parcial da verdade. Ver a relação com Deus como uma fonte de renda e de ganho, isso é errar o alvo! O evangelho vai para outro lado! Jesus não nos prometeu vida fácil e nem nos prometeu muitos bens. Ele nos prometeu, aliás é o evangelho deste domingo que eu estava preparando aqui... É quando aquele homem vende tudo e dá aos pobres. Não vai assim. “Deus depois dá um monte de coisas”. Essa teologia da prosperidade, no fundo é um quê de idolatria.
O caminho é “Se eu tenho Deus, eu quero mais o que?”.

Reinaldo Wolff: Um professor da PUC/RJ diz que há mais mulheres evangélicas, e é isto que contribui para haver muitos jovens evangélicos? O que o senhor pensa a respeito?
Pe. José: Eu penso que as pessoas não ficam olhando para essa questão de gênero lá na Igreja. 

Reinaldo Wolff: Eu acredito que a participação de todos é muito importante. E que as mulheres, não só como mães mas também ajudam.
Pe. José: É, são lideranças. É pobre aquela comunidade que tiver um único gênero para representá-los. 

Reinaldo Wolff: Pequeno relato do seu perfil.
Pe. José: Eu sou de uma família numerosa, somos 7 filhos. Nascidos no interior de Minas Gerais. Muito pequenino meus pais mudaram para o Espírito Santo. Eu sou o quarto de 7 filhos. Eu tenho um tio que é padre. É possível que ele tenha tido alguma relação com a minha vocação. Aos 16 anos eu entro para o seminário. Eu, aos 14, já desejava fazê-lo. E começo, e faço seminário menor completando o ensino médio. Depois faço o propedêutica, o filosófico e depois faço teologia em 95. Meu bispo é Dom Carlos Alberto. Ele me mandou para Roma, fiz o Mestrado em Teologia Bíblica. Em 2000 fui ordenado Padre e retornei à Roma para concluir os estudos e concluir o mestrado. Em 2000 eu vim para cá e vim trabalhar na formação dos Padres. 

Reinaldo Wolff: O senhor é professor da PUC em Teologia?
Pe. José: Atualmente sim. Então lá eu permaneci sendo o reitor do seminário de 2004 a 2006. Em 2003 eu havia começado a lecionar na PUC, onde leciono até hoje. Nesse ínterim fiz o doutorado em Teologia, concluí este ano, agora em 2012. Sou o pároco nesta Paróquia de São Pedro Apóstolo e professor. 

“Iniciativa Missionária na Paróquia”

A segunda parte da entrevista será um debate. Aguardem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário